ETERNO COMPANHEIRO

 

Vagas vêm e vão

A entoar a cantiga monótona

Do velho companheiro –

O mar – que ainda me segue.

Quando estou triste,

Nele banho-me,

Em vão, a procurar,

Afastar de mim as angústias

D’um viver sem razão.

Estou triste, estou só,

Procuro-o.

Ouço suas conversas,

Seu eterno murmúrio

De um marulho vindo;

Vou e volto com suas vagas

Que dão, de vida, a idéia,

Na ilusão de um movimento próprio,

Da natureza, sem reclamos.

Se sou feliz, também o procuro.

Mas, hoje, estou pessimista.

Sinto vontade de avançar

Sobre o ancião amigo

Para deixá-lo tragar-me,

Que de regaço aberto me espera.

Ele esconder-me-ia de todos,

E libertar-me-ia de tudo.

Vejo-o como um desafio à minha coragem

De encara o suicídio.

 

 

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