LEMBRANÇAS DE LIMOEIRO

 

O garoto cresceu,

Estudou,

Se formou,

Viajou o mundo inteiro,

Conheceu muitas pessoas, alguns amigos,

Casou,

Fez filhos,

Sonhou em ser ainda maior,

Trabalhou,

Subiu e desceu,

Foi e voltou muitas vezes, há muito tempo,

Mas não lhe esqueceu.

Terra natal,

No papel terra adotiva.

Limoeiro dos maus sonhos,

Da minha infância pobre,

Dos pés no chão,

Da bola de meia,

Da jabuticabeira repleta de frutos e da gente,

Que lhe subíamos pelos galhos

Até o mais alto deles,

Ponto de espia

De onde emanava o aviso

Da vinda do seu dono.

Correrias, risos.

Traquinagens.

O acordar cedo para ir à escola,

Briga diária para não levar merenda,

Me sujava os cadernos dentro da bolsa.

As incertezas do futuro;

A ânsia de querer ser

Esbarrando na impotência de poder ser;

A insatisfação com o estado de coisas do momento,

Com o viver sem um objetivo;

Tudo isto me dava

Um desejo incontrolável de fugir de tudo

Que me levava, às tardes,

Para o Alto de Redentor,

Para sentir o vento e

Me deixar levar para distante,

Fechar os olhos e sonhar

Com as outras cidades além do horizonte.

O garoto cresceu demais,

Já não cabe dentro das suas origens,

Mas sente a falta dos seus amigos,

Sua maior perda no dia em que partiu

Em busca do seu destino.

O garoto continua crescendo

E quanto mais cresce,

Nos momentos de reflexão,

Quando olha para o seu passado,

Sente os olhos marejarem

Na saudade dos dias que não se repetirão,

Das paisagens inesquecíveis,

Dos fatos acontecidos,

Dos poucos amores vividos,

Das grandes amizades cultivadas

E perdidas no tempo e na distância.

Limoeiro dos meus sonhos,

Da minha saudade

Que já não tem mais cura

Porque agora sou daqui

Desta outra cidade que me adotou,

Que me deu outra família,

Tão diversa daquela outra,

Que me projeta na busca de realizações.

Outro mundo, outra vida.

No entanto, os mesmos sonhos, alguns já realizados.

Um, maior, ainda por se realizar.

O da volta em triunfo,

Os amigos a me aguardarem,

Os abraços e beijos,

A família reunida na velha casa da

Rua da Alegria, número 1271,

Apesar de já não ser mais nossa,

A emoção de ver a minha vitória

Elevar bem alto a bandeira

Da minha terra.

Limoeiro, o sonho ainda não acabou.

 

 

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