ROSELINA

 

Querida Roselina,

 

Não, não irei ao casamento.

Não posso estar em teu lar,

Não me sentiria tranqüilo.

Representas para mim uma aventura muito linda.

Junto de ti desprezei todos os princípios de moral

Que havia sedimentado.

Quase te levei ao adultério.

Se te visse neste instante, à sós,

Correria para ti, te beijaria e te possuiria.

E por isto não vou ver-te.

 

Muitas vezes, quando o silencia da noite me acalenta,

Eu penso em como me olharias

Se um dia eu namorasse a tua filha.

Confiarias em mim?

 

Somos amigos, Rose, e assim o seremos até o fim.

Um dia, não sei quando,

Pode ser daqui a um, dois, dez anos,

Eu te verei e conversaremos

Saudosos e desejosos de que a nossa união

Se tivesse concretizado.

Talvez eu te fale neste dia

Que não fui inteligente ao não atender ao teu chamado.

Mas hoje eu faço e falo o que está certo;

Não vou.

 

Não adianta alimentar mais ilusões

Num coração que já deve estar tão sofrido.

 

Talvez um dia, quando eu me sentir mais só do que já me sinto,

Eu saia correndo atrás de ti,

Porque tenho a certeza de encontrar aí um bom amigo.

Não me espere.

Será uma surpresa.

 

Se quiser continuar a escrever-me, faça-o,

Mas não espere resposta a todas elas.

Outro dia, como hoje, eu te escrevo.

 

Fica com a certeza do meu afeto.

Um beijo.

 

 

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