BODAS DE ESTANHO
E nos vimos pela primeira vez.
Meus olhos, daí para frente,
Renegaram a escuridão em que viviam
Antes de fitar a tua recortada
Silhueta contra as luzes brilhantes da cidade,
Ao fundo, e da festa da Escola Naval.
Dançamos muito e os nossos espíritos
Unidos e enlevados
Brincaram iguais crianças
E começaram a se sufocar
Na paixão que acabaria
Por nos arrastar para a união eterna.
Não foi difícil reencontrá-la após aquela noite.
E do reencontro, novos encontros,
Sensações novas e cada vez mais fortes,
Vidas que começavam a ter muito em comum
E que só poderiam nos levar
Aonde fomos
Naquele último dia de novembro de 1975.
Ainda, como se fosse hoje,
Me vejo de casaca,
Luzes, muitas luzes,
Flores, muitas flores,
Músicas bem escolhidas,
Hinos de amor,
E tua angélica visão cada vez mais próxima,
Igreja adentro,
Quase minha.
Lua de mel em Guarapari.
Dias sem muito para preocupar
Que não fosse estar sempre juntos,
Passear,
Permanecer em estado de entregação,
Fugir algumas vezes
Para escutar a natureza.
Belas fotografias, no descuido
Da máquina fotográfica sem filme,
Ficamos sem algumas.
Penoso despertar
Depois, na volta,
Para a vida do lar.
Problemas financeiros, normais de início de vida.
Dias em que não chegava
Por estar de serviço.
Rotina do lar.
Filhos, dois, um casal.
E fomos crescendo juntos,
Aprendendo a nos amar,
Aceitando as nossas deficiências,
Entendendo algumas falhas,
Vencendo conflitos internos e externos,
Fazendo grandes amizades comuns,
Algumas trazidas dos tempos de sozinhos
E outras das vivências atuais.
Vivemos juntos.
Gosto cada vez mais de ti,
Agora mulher madura, formada,
Que já sabe o que quer,
Que, por isso mesmo,
Se está comigo é porque me quer,
Que há dez anos me acompanha
E me transmite a tranqüilidade
Que preciso para ser eu mesmo.
Ainda não vivemos tudo.
Registre-se a minha esperança
E esta homenagem.
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