MÃE MIANA
Preta velha,
Amada preta velha,
Cujos seios plenos de vida
Me escorriam por entre os dentes
Enchendo de forças o corpo frágil de bebê
Carente da tua ternura de mãe emprestada.
Onde andarás?
Teu calor me acalentava sempre
Nos instantes de saudade, sem definição,
Das coisas de antes do abandono.
E tua vida, naqueles dias tão minha,
Um dia me fugiu
E de saudades me fazem, já adulto,
Pensar e rezar por ti.
Onde andarás?
Vives?
Tua pele, tão diferente da minha,
Me atraia pela semelhança com a noite
Da luz das velas daqueles dias,
Já tão passados.
Onde estarás?
Minha mãe preta,
Que muito poucos puderam ter,
Se tua vida pudesse refazer
Não te teria sofrendo,
Como agora sei que sofrestes,
Neste mundo dos homens,
De lar em lar,
Como se escrava ainda fôsses,
Sem direito ao teu próprio canto,
Sem tua própria vida,
Colocada que sempre ela era
Ao dispor dos sem-mãe
Ou dos filhos de mães sem leite.
Onde estarás?
Tua vida alimentando vidas,
Teu amor enlevando espíritos
E reforçando egos do futuro,
Tua cor atraindo a atenção.
Os olhos que te procuravam antes
Haverão de se manter fechados,
Sempre que solicitarem o filme
De tua visão de anjo preto,
E sentirão receio de se abrir
Para enfrentar um mundo onde
Tu podes já não mais estar.
De tua saudade se fez marcar esta vida,
Evocada que és muitas vezes
Depois de tantos anos.
Onde estarás?
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