VILLEGAGNON E O
SONHO DE UMA NOITE DE NATAL
O objeto voador surgiu do infinito.
E Villegagnon se fez de festa
Com a intensa claridade que invadiu toda a ilha.
Sua velocidade espantosa foi diminuindo
Gradativamente
Quanto mais o solo se fazia próximo.
O barulho de sua desaceleração soou forte
E a nave pousou suavemente
No centro do campo de esportes.
De suas entranhas desembarcou um ser humano
De inigualável beleza.
Seus cabelos lisos,
Longos e louros, caiam por sobre o seu terno
Bem recortado, de discreta cor marrom.
Seus olhos eram azuis,
Do azul mais belo que já vi.
Sua barba dourada
Complementava a beleza do seu rosto
E seu corpo, musculoso e bem tratado,
Nos fazia ver que estávamos
Diante de uma pessoa de muita saúde.
A esta altura o Oficial de Serviço,
Avisado por um Marinheiro,
Corria em direção à nave,
Ofuscado pelas luzes
E sem saber direito o que acontecia.
Seu íntimo mesclado de coragem e medo.
Feitas as apresentações
Aquele homem não falou o seu nome,
Ou, se o falou, fê-lo de forma ininteligível.
O Oficial de Serviço sentiu-se inibido
E não lhe perguntou o nome novamente.
Perguntado sobre o que veio fazer na Escola Naval,
Respondeu que queria apenas
O prazer maior de participar
Da nossa Ceia de Natal
E argüiu se ele poderia convidá-lo.
Tendo obtido uma resposta afirmativa
Fez um sinal com a mão direita e a nave começou
Novamente a rugir e se alçar.
À certa altura um estrondo
E novamente aquela velocidade
Espantosa a fizeram sumir em questão de segundos
Levando consigo as luzes que havia trazido.
Ficamos apenas nós com aquele estranho,
No escuro da noite do céu alegre de estrelas.
Caminhamos para a Praça d’Armas.
O Oficial de Serviço mandara montar
Uma mesa única para a Ceia.
Oficiais e praças estariam ali reunidos
Nesta noite para confraternizar.
Haveria de se colocar mais um lugar
Para aquele estranho que nos visitava.
Durante a Ceia conversamos bastante
E sua conversa era acalentadora, quente,
E nos confortava
Fazendo-nos entender as coisas boas e más
Que nos aconteciam no nosso dia a dia.
Contamos das nossas famílias, das nossas casas,
Das nossas aspirações e dos nossos receios.
E para cada nova situação apresentada
As suas palavras soavam profundamente
Nos dando confiança
E nos transmitindo paz.
Perguntamos de onde ele viera e evasivamente
Nos respondeu que viera de muito longe
Especialmente para nos trazer
Alguns instantes de paz.
Recomendou que esquecêssemos
Todos os nossos problemas naquela noite
E vivêssemos somente o presente
Para podermos entender todas as suas mensagens.
E deu o seu recado.
E se fez entender.
E vivemos a sua vida, por instantes,
Como se fosse a nossa.
Quanto mais conversávamos
Mais eufóricos ficávamos
Ao sentir as mensagens
Que aquele estranho personagem
Procurava nos transmitir.
Não sentíamos sono.
Aquela conversa se alongou
Até às duas horas do dia seguinte.
Neste instante uma estranha luz caiu do teto
E iluminou a sua cabeça.
E ele começou a levitar.
Ante nossos olhos arregalados,
Seu corpo foi desaparecendo através do teto,
Que só acordaram quando um novo estrondo
Iluminou novamente toda a ilha.
Movidos pela intuição levantamo-nos e corremos
Para o campo de esportes
Chegando ainda em tempo de vê-lo sumir pela porta
Do objeto voador que novamente começou a subir.
Um novo estrondo e aquela velocidade espantosa
Fizeram o objeto sumir levando consigo
Toda a luminosidade que espalhara à sua volta.
Perplexos,
Por muitos instantes
Ficamos todos a olhar para o infinito,
Com uma sensação de vazio,
Na esperança de sua volta que não aconteceu.
Aos poucos a estranha sensação foi cedendo lugar
A uma euforia nunca vista.
Quase no mesmo instante
Todos nós entendemos quem era
Aquele homem que trouxera com suas palavras,
Com sua doçura,
Tanta tranqüilidade aos nossos corações.
Entendemos que ele era realmente importante.
E nos sentimos igualmente importantes
Porque aquele homem tão especial do qual, até então,
Só tivéramos notícia através da Bíblia,
Havia escolhido a Escola Naval e nossas companhias
Para passar a sua noite de Natal.
Jesus Cristo! Era Ele mesmo.
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